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Mostrando postagens de fevereiro, 2023

Desenvolvendo Consciência

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O material básico para o desenvolvimento de nossa consciência não são os estímulos sensoriais que nos chegam de modo fragmentado captados por nossos sentidos físicos. Mas sim os símbolos que se formam em nossa imaginação, que referem-se aos universais, isto é; a unidade de cada ente real que se nos apresenta e fica gravada em nossa memória. A posteriori podemos decompor nossa percepção e separar em cada coisa percebida seus elementos sensíveis, mas jamais apreenderíamos nada se não pudéssemos captar instantaneamente sua essência por presença direta e em seguida armazenar tal unidade em nossa imaginação como símbolos memorizáveis. Então com todo este material imaginativo e simbólico armazenado é que podemos começar a tecer e combinar nossos pensamentos transformando-os em conhecimentos racionais, conceitos e estruturas lógicas que nos possibilitam ordenar a realidade em um todo coerente de possibilidades. Esta razão então nos serve de âncora em meio ao rio do devir e das transformações

Escrever

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O risco de escrever é não ser compreendido. Há uma diferença entre o texto em si e a realidade concreta que pretende descrever. Este risco aumenta exponencialmente quando se escreve Filosofia pois o objeto de que trata o discurso é menos palpável. O leitor precisa fazer um esforço imaginativo sobre cada conceito sem se apegar somente as palavras em sentido formal. Este esforço visa rastrear as experiências reais que o texto pode evocar. Assim cada palavra ganha varias camadas extras de significado e da comparação destas nuances na mente do leitor com o conjunto do que foi lido, pode-se chegar a compreender o sentido específico do que o autor quis realmente expressar. Sem este trabalho de memória e fantasia por parte do receptor a chance de que o texto não diga nada, ou seja interpretado com sentido diferente do que originalmente pretendia é enorme. continua... Foto: Trilha do Gravatá, Florianópolis, Santa Catarina / SC, Brasil, por Peter Canellov com um Iphone 5s.

Não há um sem nós

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Buscar compreender a realidade é buscar compreender o ser humano, tendo em vista que nossa realidade é humana. O ser humano está no seio da totalidade do Ser e conta sempre com algum nível de percepção direta da presença do Ser para viver. Ao mesmo tempo nenhum humano pode viver sozinho mas precisa de seu semelhante para sobreviver e reconhecer a si mesmo, isto significa que a realidade é essencialmente dialética. Enquanto a ação direta do Ser em sua totalidade pode se abater sobre nós como uma presença misteriosa, desconhecida e até ameaçadora, a relação com outro ser humano é como um catalizador amoroso que funda e e constrói os primeiros símbolos que dão sentido a realidade. Isto equivale a dizer que não existe humanidade sem amor ao próximo. Precisamos de outro ser humano para estruturar as bases de nosso próprio ser. continua... Foto por Peter Canellov.

Querer mais...

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A maravilha, o mistério,  a beleza  do universo e de nossa existência não tem fim. Não importa quanto tempo passe, estamos sempre aprendendo algo novo e nos espantando em face de nossa própria ignorância. Sentir o véu que nublava nossa visão repentinamente se dissipar deixando que um raio de compreensão atravesse o espaço iluminando nosso espírito é admirável e recompensador. É como deixar para trás uma casca de concepções enrijecidas que nos prendia em um velho molde estagnado e nascer de novo. A única tristeza é saber que há tempo de menos e maravilhas demais para contemplar em uma única vida humana. Foto: Praia do Moçambique vista do alto, em Florianópolis, Santa Catarina / SC, Brasil, por Peter Canellov.

Arte de Sonhar

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O momento que antecede o sono sempre me pareceu extremamente prazeiroso. Meus pais eram separados e quando criança em muitas ocasiões minha mãe deixava que eu dormisse com ela. Aquela era para mim a hora mais feliz do dia. Me sentia relaxado, feliz e protegido. Alguns anos depois já um pouco mais velho, proibido de ficar com a mãe e deitado sozinho em meu quarto no escuro eu observava aquele momento com curiosidade. Um resíduo de consciência de algum modo permanecia ativo em mim durante toda a noite e eu era capaz de, ao amanhecer, lembrar de todos os meus sonhos. Na época então estranhava que muitos dos meus amigos diziam não lembrar o que haviam sonhado. Eles por sua vez também se espantavam comigo quando eu lhes narrava na ordem exata, entre 10 e 15 sonhos que eu havia tido em uma única noite, os quais eu lembrava do começo ao fim com clareza de detalhes... continua... Foto por Peter Canellov.

O dia em que quis ser Jesus

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Estes relatos de eventos da infância que considero fundamentais, e tiveram a virtude de gravar em minha consciência as sementes do despertar e da busca da verdade, podem parecer desinteressantes. Levo a cabo tal tarefa não para angariar público e sim por uma necessidade essencial de recapitular e reviver meu passado como uma espécie de terapia purificadora. Hoje gostaria de mencionar o dia em que durante uma tarde me decidi ser Jesus. Não me lembro se havia lido algo bíblico, ou por qual influência (minha família era católica e eu costumava ver belos livros ilustrados sobre a vida dos santos), mas naquela tarde me senti muito inspirado. Me encontrava sozinho em casa, por algum tempo não brinquei nem me distrai, mas permaneci em um certo estado de meditação e oração, e por algumas horas acreditei com todo meu ser que eu poderia de fato me abster de todo o pecado e levar para o resto da vida uma existência absolutamente pura e imaculada. Ao anoitecer obviamente eu já havia me esquecido t

Conhecer e Pensar

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O Ser é uno em sua totalidade mas realiza-se e constitui-se sempre como dualidade tensional. No ser humano uma tensão essencial se dá entre conhecer e pensar. Estamos sempre em contato com a presença real do ser que chega até nossa consciência ininterruptamente. Isto nos faz conhecer de maneira direta silenciosa e instantânea sem a necessidade de imagens, pensamentos e palavras. É o saber do coração. Por outro lado nossa mente pensa, imagina, elabora signos para representar nossas impressões e aprendemos a pensar e memorizar com nossos semelhantes, cultura, sociedade. Estes dois aspectos, podem estar muito afastados e descolados um do outro e quando isto se dá, não temos um ser humano verdadeiro e completo. Atualmente a maioria não consegue dar atenção ao seu conhecimento direto e concreto da presença do ser, mas vive em um universo mental de imagens abstratas e auto-imagem construída de si mesmo. Todo nosso trabalho deverá ser na direção de unificar estes dois aspectos. Não para aboli

Jacaré

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Certa vez quando era criança meus parentes começaram a desconfiar que eu tivesse algum problema de audição ou talvez até fosse surdo. Ocorria de eu estar tão absorto em uma brincadeira qualquer ou com a mente perdida navegando nas vagas da imaginação que simplesmente não respondia quanto era chamado. Fui então com minha mãe ao médico fazer uma avaliação auditiva. Consistia em repetir palavras que eram transmitidas a mim em um tom cada vez mais baixo. Para surpresa geral tive 100% de acerto. Me lembro até hoje da palavra mais inaudível que me foi dita, a derradeira de uma longa série, que era: – Jacaré. Foto: Cachoeira em Taió, Santa Catarina / SC, Brasil, por Peter Canellov.

Anjo

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Quando eu era pequeno meus pais certa vez me levaram para viajar de avião com eles até São Paulo. Eu era muito pequeno, não tinha completado 3 anos de idade. Minhas lembranças desta viagem são fugidias, menos o tempo em que fiquei contemplando o céu e as nuvens através da janelinha redonda. Me recordo com clareza todos aqueles luminosos panoramas celestiais, o brilho e a textura das nuvens arredondadas como algodão doce. Meu olhar atento não despregava procurando... procurando... Ao chegar em casa na volta, a primeira coisa que fiz foi pedir para minha mãe ligar para minha avó pois eu precisava lhe falar. Minha avó sempre foi muito católica e eu passava muitos dias em sua companhia, foi ela quem havia me ensinado a rezar todas as noites antes de dormir. Então eu lhe disse desapontado ao telefone: – Vovó, voei de avião, olhei pela janela durante muito tempo, mas não vi nenhum anjo. Foto: Mariana no mirante natural em Barra da Lagoa, Florianópolis, Santa Catarina / SC, Brasil, por Peter