Do que exatamente estamos falando?

Como ficou demonstrado em nossas investigações precedentes pode haver um hiato entre o acontecimento factual e seu testemunho oral.


O fato ocorrido no tempo é diretamente percebido, mas ao narra-lo, o indivíduo pode não ser capaz de transmitir tal experiência real de maneira fidedigna.

O narrador pode subtrair ou adicionar novos elementos ao discurso, construindo uma quadro abstrato enganoso.

Tal engano frequentemente não é proposital, mas um erro. A experiência pode ser complexa a ponto de um testemunho sincero não ser capaz de fazer o ouvinte captar a realidade que o originou.

Esta lacuna ocorrerá com mais frequência a medida em que objeto de que trata o diálogo seja mais universal.

Se não estamos falando de um vaso quebrado, mas de sentimentos humanos, fenômenos sociais, ou de questões fundamentais do conhecimento, ainda assim os conceitos devem se apoiar em uma experiência perceptiva direta e real.

O interlocutor terá que reproduzi-la em seu espírito, ao menos por analogia e com auxílio da imaginação e da memória, como se a revivesse e dela participasse intimamente, caso contrário as palavras não terão nenhum significado verdadeiro.


Foto: Vista do mirante em Lagoa da Conceição, Florianópolis, Santa Catarina / SC / Brasil, por Peter Canellov.

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